FORÇA DE OYA

quinta-feira, 6 de setembro de 2012


Minha mãe nasceu em Minas. Só que ela, coitada, não tinha conhecimento da vida. Então, nas viagens dela, ela me largou mais pra cima, na Bahia, com os homens que vendiam crianças. Vendiam meninas como eu, pra outros homens cuidarem. – Cuidar da maneira deles, não é? – Só que eu cansei dessas coisas. Peguei um navio daqueles que transporta cereal. Fugi à noite e esperei no mato até de dia cedo para sair até o navio. Assim eu cheguei no Rio de Janeiro nos tempos antigos; nos tempos dos finais ‘zero zero’.
Quando cheguei, não sabia o que era aquilo tudo. Então comecei a fazer amigos que me levaram para os caminhos errados – até porque eu tinha que ir para qualquer caminho, porque não tinha caminho nenhum.
Aí, na vida eu conheci mais do que devia.
Muito cedo, tudo que eu tinha dentro foi embora. Aí, também nunca tive muitos homens, fora os que eu queria rapar. Essas coisas do amor, eu nunca entendi direito o que eram. Só entendi depois de morta. E não tive muita escolha pra ter sentimento, então eu fui como achava que devia ir.
E também fiz muita coisa errada.
Matei muito gringo por dinheiro… Rondava o cemitério perto do porto e lá eu ficava. Como eu também não conhecia as coisas, usei do que eu sabia fazer, que era às vezes dar uns coices nas pessoas na Capoeira pra ganhar o que eu queria. Eu participei das rodas pra lutar, não pra dançar, nem pra gingar.
Eu usava as navalhas sempre que preciso. Sempre que eu precisava e que achava que eu precisava – pra mim tudo era motivo para usar. E eu não tinha só uma, eu tinha três. Duas nas pernas e uma atrás. Porque quando você dança, quando você luta, você pode pegar de vários lugares as navalhas.
Então, eu ficava rodeando aquele cemitério e me escondia no porto. Seguia no meu dia a dia, com os peões, os homens, as biritas. E sempre na rua. Os lugares onde eu dormia também eram na rua. Perto do porto – que é de lá que eu venho, da linha do mar.
Assim eu fui até o dia em que um homem – que eu já encontrei – me rapou por trás e me degolou inteira! Mais uma cicatriz.

Então eu fiz da minha vida, o meu trabalho, para poder evoluir.
  • (Se Oxalá liberar, não é?)
Cheguei na Quimbanda com muita luta também, mas sem navalha. E essa eu tive que lutar no mental. Tive que lutar contra o meu mental para ir chegando nos patamares onde já cheguei. É difícil, mas se consegue. E eu peguei o cavalo bem por isso, porque ela achava que não conseguia. Eu vim mostrar pra ela que ela podia
Eu agora estou ganhando meus pontinhos, me ajudando. A menina me ajuda também – pra poder ajudar os outros – e assim todo mundo se ajuda. E é só ajudando os outros que eu consigo o que eu quero.
Às vezes a gente não entende direito que precisa trabalhar com amor. Mas quando você entende, fica mais fácil alcançar os lugares que tanto quer, seja onde for. Eu tenho muito ainda pra fazer. Ajudo as pessoas que aqui na carne precisam; e elas às vezes é um pouco mais fácil de ajudar quando elas querem. Os espíritos algumas vezes têm outras coisas envolvidas. O tempo – o tempo que não é do relógio – mas um tempo maior, que às vezes tem que esperar… Mas à maneira do possível, quem eu posso, sempre ajudo.
Só não gosto de exu mandão. Essas coisas comigo não adianta, porque quem manda em mim sou eu. Presto serviço, com muito carinho, com muita vontade, porque eu sou muito feliz onde estou agora.

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